Nos últimos 50 anos, a mamografia tem contribuído para salvar vidas. Dados mais recentes em países desenvolvidos com programa de rastreamento populacional organizado, atribuem à mamografia isoladamente uma redução da mortalidade pelo câncer de mama em 30%. Além disso, também tem um papel importante na redução do número de cirurgias mutiladoras e tratamentos agressivos, melhorando a qualidade de vida das pacientes.
A incidência do câncer de mama continua aumentando progressivamente no Brasil, com uma estimativa de 55.000 novos casos a cada ano. Um fato importante que tem sido observado é um aumento na incidência nas mulheres abaixo de 40 anos.
Além disso, infelizmente a mortalidade do câncer de mama no Brasil também continua aumentando, ao contrário da tendência observada nos países desenvolvidos. Este triste dado em relação ao Brasil é atribuído (i) a um programa de rastreamento desigual e com abrangência muito aquém do esperado, (ii) às diferentes políticas de rastreamento, e finalmente, e não menos importante, (iii) à dificuldade de acesso ao tratamento adequado. Estes fatores são muito bem demonstrados em trabalho publicado recentemente por pesquisadores brasileiros, que observaram uma tendência de queda na mortalidade nas regiões Sul e Sudeste, que casualmente correspondem às regiões com o maior número de mamógrafos disponíveis, e com acesso mais fácil e rápido ao tratamento.
O rastreamento mamográfico está indicado para todas as mulheres assintomáticas acima de 40 anos, conforme consenso publicado em 2012 pela Comissão Nacional de Qualidade em Mamografia do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), em conjunto com a Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Entretanto, esse assunto ainda é objeto de controvérsia, uma vez que o Ministério da Saúde (MS) preconiza mamografia em regime bianual, e a partir dos 50 anos de idade. Este parâmetro do MS se baseia em dois fatores epidemiológicos observados em mulheres com menos de 50 anos: (i) a maior frequência de mamas radiologicamente densas, onde a mamografia é menos eficiente na detecção de lesões, e (ii) a maior frequência de tumores com crescimento rápido, aumentando os casos do chamado “câncer de intervalo”, o que reduz a eficiência do rastreamento. As divergências continuam em relação ao momento de parar o rastreamento. As sociedades médicas acima citadas recomendam continuar o rastreamento enquanto a mulher apresentar uma perspectiva de pelo menos sete anos de vida, ao passo que o MS oferece apenas até os 69 anos.
Um assunto polêmico, e que infelizmente é trazido à sociedade através de mídias sensacionalistas e irresponsáveis, é em relação ao risco do desenvolvimento do câncer de mama decorrente da exposição à radiação pela mamografia. Este risco é desprezível em relação ao benefício do rastreamento mamográfico. Um estudo recente, publicado em 2011, estimou que o rastreamento mamográfico evita 1.121 mortes a cada 100 mil mulheres rastreadas (entre 50 a 74 anos), enquanto pode induzir 1 câncer.
Em relação aos outros órgãos, o risco de desenvolver tumores é igualmente desprezível. A dose nos demais órgãos durante a mamografia é menor que 2,5% da dose que a mama recebe. Por exemplo, nos pulmões a dose recebida durante uma mamografia completa (4 incidências) é cerca de 1/40 da dose de Rx tórax, e de 1/500 a 1/3000 de uma tomografia de tórax. Quanto à tireóide, a dose é menor que 1% da dose recebida pela mama. Ou seja, o risco de um carcinoma de tireóide induzido pelo rastreamento anual é de 1 caso em 17 milhões de mulheres rastreadas.
A Mamografia é um método diagnóstico com baixa dose de radiação e imagens de alta definição utilizado como o exame padrão para detecção precoce do câncer de mama. Esse tipo de exame pode detectar um nódulo, mesmo que este ainda não seja palpável
Dr. Lucio De Carli
CREMERS 16260 | Médico Radiologista
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Dra. Linei Augusta Brolini Delle Urban, coordenadora da Comissão Nacional de Qualidade em Mamografia do CBR